Música de coração partido

Era uma festa de amigos, um bar no fundo de um corredor comprido. Todos bebiam, conversavam, dançavam, o aniversariante ria, radiante e amado.

Havia muito mais mulheres do que homens ali, elas eram as mais animadas, dançarinas, no centro do mundo. As músicas eram standards das pistas de dança de todos os tempos, todos conheciam as letras e tinham coreografias especiais.

Uma convidada tocava músicas do laptop sobre o balcão do bar. Ela escolhia uma música e ia para a pista dançar, pulava, bebia e voltava até o balcão para mandar a próxima. Em uma dessas voltas viu algo no outro canto do bar, parou, hipnotizada por segundos. O som parou e ela teve que mandar outra, voltou para a pista, mas dessa vez olhava insistentemente na mesma direção, onde um casal se beijava.

Ela dançava sem tirar os olhos da cena, era como se seu corpo girasse e a cabeça estivesse fixa, seu rosto apontando sempre para o mesmo lugar. O sorriso já não era o mesmo, mas ela se esforçava para parecer ainda estar se divertindo. E ela corria para o balcão para trocar as músicas, e as músicas agora diziam coisas que ela queria dizer.

E ela só podia dançar e tocar músicas, mas ela queria mesmo tocar o coração de alguém.

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Contemporâneas

Escolhia a temperatura da água da lava roupas de acordo com o tempo.

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O gosto real das coisas

Trazia consigo certas manias e preferências, umas herdadas de amantes passados. De um trouxe o amor pelo time, de outro o amor pela arte, e aquele a ensinou a gostar de velejar, e também que era melhor remover os pelos que caminhavam errantes entre seu umbigo e sua virilha. Este morreu, mas é lembrado sempre que ela raspa os pelos da barriga no banho.

Teve um outro que a ensinou a temperar saladas: primeiro o sal, e então o azeite o espalha sobre os vegetais, deixando tudo uniformemente salgado.

Anos depois foram almoçar juntos. Conversaram sobre suas vidas, cada um contando sobre si e querendo saber sobre o outro. Como você está? Era a pergunta na cabeça de ambos: algo havia mudado? Você ainda é você?

E a salada chegou. Duas pequenas porções individuais. Ela olhou sobre a mesa, automaticamente procurando o sal que não encontrava. Ele colocou azeite na salada. Azeite na salada! “Cadê o sal?”, ela meio que se perguntou em voz estranhamente mais alta.

“Está aqui”, ele ofereceu o pote com pequenos envelopes que estava atrás do azeite e do vinagre. “Eu não como mais sal, prefiro sentir o gosto real das coisas.”

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Compre agora / Buy now

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Reduzir queixo duplo  / Reduce double chin

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Clarear cabelo / Lighten hair

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Aparências

Gostava de mandar, e de ser obedecida. Tirana louca e egoísta, era assim que queria ser conhecida.
Mas ninguém acreditava, amava crianças, e era boa com os animais.
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As novas gerações e o amor

Ele, seis ou sete anos. Ela, na altura dos três. Primos, amigos, brincam juntos no restaurante da família.

Estão próximos do balcão de café. Ele acuado, encostado no guarda-corpo da escada, braços abertos como asas, para alçar vôo. Ela o olha, estranhando o comportamento arredio.

Ele reclama para a mãe:

– Não posso chegar perto de pirulito.

Ela lambe o doce, bem maior que sua boca.

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She’s not the girl…

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Um teto todo seu


O projeto Um teto todo seu nasce do desejo de um encontro, da busca por um espaço de respiro, de intimidade e de criação para as mulheres.

Artistas que exploram linguagens diversas – como interferência urbana, performance, xilogravura, fotografia, vídeo, instalação, dança e poesia – se reunirão em um período de residência no espaço Enquanto, que resultará em uma mostra de arte.

Com Adriana Macul, Amaranta Krepschi, Biba Rigo, Catherine Blanchet, Danielle Noronha, Diana Leite, Fabiana Mitsue, Flavia Sammarone, Flavia Vivacqua, Gisella Hiche, Inês Moura, Juliana Dorneles, Karole Biron, Luciana Costa, Marcela Biagigo, Mariana Cavalcante, Marie-Claude Gendron, Marie-Fauve Bélanger, Michelle Gallindo, Milena Mendes, Milena Durante, Milena Valentir, Paula Ordonhes, Pavitra Wickramasinghe, Raphaelle Faure-Vincent, Tábata Costa, Tamara Borges e Yolanda Dominguez.

Abertura
Sábado, 08/10 – das 15 às 20h

Exposição
Domingo, 09/10 – das 14 às 19h
De segunda a sexta-feira, 10 a 14/10 – das 10 às 18h

Encerramento
Sábado, 15/10 – das 15 às 20h

Um teto todo seu

Espaço Enquanto

Rua José Bonifácio, 210, 2º andar – Centro
São Paulo, Brasil
Próximo ao Metrô Sé e ao Largo São Francisco

(mapa)

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Dá a mão!

Um banho de desobediência civil em Israel

Com ajuda de mulheres israelenses, palestinas ”driblam” fiscalização para frequentar praias

– O Estado de S.Paulo

Apreensivas no início, depois arregalando os olhos de satisfação, as mulheres e meninas entraram no mar sorrindo. De mãos dadas, atiravam as cabeças para trás e riam. A maioria jamais tinha visto o mar. Elas eram palestinas da parte sul da Cisjordânia. O território não tem saída marítima e Israel não lhes permite entrar no país. Elas se arriscaram a um processo criminal, com dezenas de mulheres israelenses que as levaram à praia. E isso, aliás, era parte da questão: protestar contra o que elas e suas anfitriãs consideram leis injustas.

Nas relações palestino-israelenses – sem negociações, com recriminações mútuas, distância crescente e desumanização -, a viagem ilícita foi um raro evento que uniu o mais simples dos prazeres à mais complexa das políticas. Ela mostrou que a coexistência é dura, mas há quem se recuse a desistir dela.

“O que estamos fazendo aqui não mudará a situação”, disse Hanna Rubinstein, que viajou de Haifa a Tel-Aviv para participar. “Mas é mais uma atividade contra a ocupação. Um dia, no futuro, as pessoas perguntarão “Vocês sabiam?” E eu poderei dizer, “Eu sabia. E eu agi”.”

Essas visitas começaram há um ano por ideia de uma israelense. Prosperaram e se transformaram em um pequeno, mas determinado, movimento de desobediência civil. A jornalista Ilana Hammerman vivia na Cisjordânia, onde aprendia árabe, quando uma menina lhe disse que estava desesperada para sair, mesmo por um dia. Aos 66 anos, viúva e mãe de um filho adulto, ela decidiu “contrabandeá-la” para a praia.

Disfarce. Na viagem da semana passada, as mulheres palestinas foram disfarçadas: tiraram as roupas em vez de se cobrir. Elas se sentaram nos bancos traseiros de carros israelenses guiados por mulheres judias de meia-idade, e não usavam os tradicionais lenços de cabeça e vestidos compridos. Quando os carros cruzavam por um posto de inspeção do Exército, apenas acenaram.

As visitantes palestinas têm histórias complicadas. Na maioria de suas famílias, os homens foram presos em algum momento. Por exemplo, Manal, que nunca viu o mar, tem 36 anos, é mãe de três filhos e está grávida; cinco de seus irmãos estão em prisões israelenses, e outro foi morto quando entrou numa escola religiosa de um assentamento armado com uma faca.

As viagens à praia – sete até agora – produziram alguns momentos tensos: um esforço para provocar interesse numa biblioteca universitária fracassou. Além disso, um convite para passar a noite sofreu rejeição dos maridos palestinos. Um policial deixou todos nervosos em uma praia frequentada por judeus.

O jantar da última visita foi uma surpresa. O evento foi organizado por Hagit Aharoni, uma psicoterapeuta e mulher do chef celebridade Yisrael Aharoni. As convidadas amaram a comida de Aharoni.

“Por 44 anos nós ocupamos outro país. Estou com 53, o que significa que a maior parte de minha vida fui uma ocupante”, disse a anfitriã. “Não sou Rosa Parks, mas a admiro, pois ela teve a coragem de violar uma lei que não era justa.”

TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK / THE NEW YORK TIMES
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Barbara DeGenevieve

Steven X and Barbara C

       “In its original  length, Steven X and Barbara C is an 18 minute video divided  into two parts with only talking heads on screen. In the first segment, the viewer is exposed to two occurrences: a socially unacceptable action (a sexual encounter between a 12 year old girl and a middle aged man), and a deliberate lie the artist perpetrates to encourage the man to finish his story (the betrayal and outing of the identity of the supposed “pedophile”). The question is whether a crime has been committed, and if so which act is more pernicious.
       
       In the second segment, a woman relates an account of her precocious sexual experiences as a child, indicating that she was always the instigator, the provocateur, the aggressive operative in the situations she describes.  She also describes the sexual encounter, confessed earlier by the man,  from the 12 year-old’s point of view.   Placed side by side, the two stories are intended to question issues of adult culpability and the sexual agency of female children.”

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